22/06/2010

José Saramago (1922-2010)


Passado, presente, futuro

Eu fui. Mas o que fui já não me lembra:
Mil camadas de pó disfarçam, véus,
Estes quarenta rostos desiguais,
Tão marcados de tempo e macaréus.

Eu sou. Mas o que sou tão pouco é:
Rã fugida do charco, que saltou,
E no salto que deu, quanto podia,
O ar dum outro mundo arrebentou.

Falta ver, se é que falta, o que serei:
Um rosto recomposto antes do fim,
Um canto de batráquio, mesmo rouco,
Uma vida que corra assim-assim.

José Saramago - Os poemas possíveis: poesia. Lisboa: Caminho, 1985

imagem retirada daqui

15/06/2010

Adriana Lisboa - nota biográfica


Adriana Lisboa nasceu no Rio de Janeiro em 1970, onde cresceu.
Mais tarde, morou em Paris e Avignon (França) e desde 2006 que vive entre o Rio de Janeiro e Denver, nos Estados Unidos da América.
Estudou música e literatura, foi cantora, flautista e professora.
Doutorada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, hoje dedica-se, em exclusivo, à escrita e à tradução.
Em 2003, recebeu o Prémio José Saramago com Sinfonia em branco (2001).
Rakushisha é o seu último romance e obra finalista no Prémio Literário Correntes d'Escritas/ Casino da Póvoa.


Para saber mais sobre Adriana Lisboa, aceder aqui.

Imagem retirada daqui

07/06/2010

Desvendando Rakushisha...


Naquela madrugada, o lápis rombudo desenhava o tornozelo e o pequeno osso protuberante. Yukiko não se mexia. (…) O corpo da mulher adormecida era quase fosforescente. Fogo-fátuo. Uma veia pulsava em seu pescoço e suas costas ondulavam ritmicamente, muito devagar, com a respiração. A mulher adormecida sonhava que um homem desenhava seu tornozelo e o pequeno osso protuberante. No sonho, ela se moveu. Seus olhos e seus braços estavam abertos.


Adriana Lisboa - Rakushisha. Lisboa: Quetzal, 2009. 155 p. ISBN 978-972-564-768-4